"They're coming to get you, Barbara!" --Johnny
por Lucas Ramone
Este mês, dia primeiro de outubro, o maior clássico do horror de todos os tempos completou nada mais nada menos que quarenta anos de estréia. Trata-se A Noite dos Mortos-Vivos (Night of The Living Dead, EUA, 1968), o filme que revolucionou a maneira como os zumbis são vistos. Antes, zumbis eram pessoas controladas mentalmente por algum feitiço ou vírus bacteriológico. Após A Noite..., a palavra "morto-vivo" ganhou um significado literal, ou seja, são mortos que voltam à vida para matar os vivos e comer sua carne. O mestre por trás dessa obra-prima é George Romero, que após esse feito tornou-se a principal referência no gênero, sendo fonte de inspiração e influência até hoje.
A história, conhecida por todos e extremamente simples, coloca 8 pessoas trancadas em uma casa de campo tentando sobreviver durante a noite aos incansáveis mortos-vivos que se acumulam ao lado de fora. Claustrofobia, medo, ódio e prepotência são os principais elementos que compõem o cenário, culminando em um desfecho trágico e totalmente inesperado para a época.
O que faz de A Noite dos Mortos-Vivos tão especial? Será a maquiagem detalhada e o sangue exagerado para a época? Ou seria a mágica de ter feito um filme totalmente genial com tão poucos recursos? O fato é que o filme realmente surpreende, e você só percebe isso algum tempo após assisti-lo. Você pensa: "Caramba, naquela época deveria ser um trabalho danado fazer um filme assim, ousado, violento, e com um final fora dos padrões...".
Muito diferentes dos zumbis que invadiriam as produções nas décadas seguintes, os mortos-vivos deste filme são apenas pessoas mortas que ficam cambaleando pra lá e pra cá, à procura de carne humana. O modo de infecção também é diferente: você só se torna um deles se morrer, tanto faz se for mordido ou não. A diferença é que se você for mordido irá morrer mais rápido, principalmente se a mordida atingir alguma veia.
Os personagens também merecem ser destacados. Ben, o herói da história, foi muito bem construído, e realmente passa um ar de liderança, sabendo agir com os imprevistos e controlando os faniquitos de Barbara. Harry Cooper, interpretado pelo também maquiador do filme Karl Hardman, mostra-se um sujeito totalmente despreparado, pensando somente em se esconder no porão, ignorando totalmente a opinião dos demais, tomando atitudes precipitadas e mostrando sua incapacidade de trabalho em equipe.
A verdade é que é muito difícil falar sobre um clássico como A Noite..., pois há muitos pontos positivos a ressaltar, assim como alguns defeitos. Pra mim o maior mérito do filme foi fazer um final tão fora dos padrões, um final que hoje talvez não seja tão inovador, mas que na época com certeza foi algo único. Afinal, já estamos cansados do típico herói lindinho e bundão que salva todo mundo e fica com a garota mais bonita. Com A Noite... foi diferente. No final, todos morrem, tanto os mocinhos quanto os zumbis que rodeavam a casa. Ben é o único que sobrevive à noite toda, só para ser confundido com um morto-vivo e ser atingido no meio da testa com um tiro certeiro.
Mas não pensem que foi fácil realizar um filme tão simples e ao mesmo tempo tão revolucionário. Enquanto o filme era exibido país afora, algo inesperado ocorreu na distribuidora Walter Reade Organization: naquela época, havia uma lei nos Estados Unidos que dizia que todos os filmes deveriam ter uma imagem de direito de cópia (o famoso copyright, conhecido pelo marca ©) abaixo do título. Pois bem, quando o filme estava em poder da Image Tem e seu título era Night of The Flesh Eaters, a marca estava lá, porém quando o filme foi para a Walter Reade e eles exigiram que o título fosse trocado para Night of The Living Dead (para evitar semelhanças e comparações com outra produção da época, Flesh Eaters), a marca foi retirada (talvez esquecida). Resultado: o filme tornou-se de domínio público. Assim, qualquer um pode usar este título como bem entender, distribuí-lo, editá-lo, fazer o que quiser, sem ser punido pela lei. E os pobres produtores não ganham nada com isso.
Mas Romero não parou por aí. Cultuado como mestre e "pai" dos zumbis, ele realizou até hoje outros 4 filmes nessa temática, obtendo estrondoso sucesso comercial e mostrando críticas aos diversos problemas do mundo moderno. Em 1978, dez anos após sua estréia no cinema, Romero realizou "Despertar dos Mortos" (Dawn of The Dead, EUA, 1978), contando com muito mais recursos financeiros e tendo à disposição um consultor de roteiro de primeira linha: o mestre do horror italiano Dario Argento. Sete anos mais tarde, em 1985, chegou a vez de "Dia dos Mortos" (Day of The Dead, EUA, 1985), que não obteve tanto sucesso quanto os anteriores mas mesmo assim merece muita atenção, pois continua sendo obra de George Romero. Vinte anos se passaram, e Romero decide que é hora de voltar às suas origens como "zumbizeiro", lançando "Terra dos Mortos" (Land of The Dead, EUA, 2005), abusando de efeitos de maquiagem aliados à tecnologia das CGIs disponíveis hoje em dia, realizando o filme mais brutal de todos. Enfim, em 2007, George vem com Diary of The Dead, ainda não lançado no Brasil, mostrando os primeiros dias da infecção que mudou o mundo e destruiu o homem.
Por fim, este é A Noite dos Mortos Vivos, um clássico que revolucionou o cinema. Recomendadississíssimo!
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